Todo trabalho tem que ter um ponto final.
Apresento abaixo o resultado das análises das controvérsias e uma síntese dos produtos e da disciplina. Os resultados são frutos de um trabalho preliminar e de uma primeira aproximação ao tema. Todos os blogs têm uma mesma estrutura para facilitar a análise e a aplicação da “metodologia”.
Acredito que o objetivo da disciplina tenha sido totalmente realizado:
1. compreensão por parte dos alunos dos principais aspectos da teoria ator-rede (TAR);
2. compreensão do recurso metodológico, análise e produção de cartografia de controvérsias;
3. exercício de mapeamento, discussão e análise final de controvérsias quentes e atuais.
Os debates em sala de aula foram muito interessantes e demonstraram não só o interesse dos alunos, como também a compreensão dos temas abordados e dos textos discutidos em sala. Os alunos (alguns calouros) nunca tinham ouvido falar em TAR ou Cartografia de Controvérsias.
Vejam os trabalhos finais dos grupos:
Grupo 1 – Proibição de pré-campanha no Twitter
Grupo 2 – Etiquetas RFID em uniformes escolares na Bahia
Grupo 3 – O AI-5 da Copa do Mundo
Grupo 4 – Exigência do diploma de jornalista
Grupo 5 – Lei de Imprensa na Argentina
Grupo 6 – Lei Antibaixaria na Bahia
Como avaliação final e global dos trabalhos, posso afirmar que cada uma das controvérsias descritas pelos grupos traz à baila um entendimento do social enquanto associações se formando em torno de um problema, revelando aspectos interessantes que podem ser descritos tendo por base a teoria ator-rede. Vejamos.
As controvérsias sobre o Twitter nas eleições e sobre o uso das etiquetas de radiofrequência em escolas públicas na Bahia trazem ao debate a relação entre dimensões legais, políticas, educacionais e tecnológicas. Na primeira, a controvérsia sobre a legislação eleitoral e o uso da internet mostra como o desconhecimento do funcionamento técnico das ferramentas e da nova cultura comunicacional ajuda a manter uma legislação que está adaptada aos meios de comunicação da cultura de massa. Na segunda, sobre o uso de etiquetas RFID, como um artefato técnico atua como mediador da relação entre alunos, escolas e pais, instituindo formas morais e éticas no “script” do sistema, forçando agentes não humanos a agir de determinada maneira. No entanto, formas de “de-scriptação” certamente aparecerão (Ver Bijker, W. E., Law, J., Shaping Technology/Building Society. Studies in Sociotechnical Change. Cambridge, MIT Press, 1994).
A análise da controvérsia sobre o que se vem chamando de AI5 da copa, remete para uma topologia plana onde questões relativas ao terrorismo global, a eventos planetários são relocalizados por plugins que instauram a questão no imaginário da ditadura militar no país. As discussões sobre o diploma de jornalista, sobre as leis dos meios na Argentina e sobre a lei antibaixaria na Bahia, mostram as relações entre economia, política, gênero e cultura popular na constituições de normas e leis que vão regular as associações. Questões corporativas ou de liberdade de expressão são rebatidas sobre a formação universitária (no caso do diploma), questões políticas e sociais, (no caso da lei da imprensa), e problemas de gênero, violência e cultura popular (no caso da lei antibaixaria) mostram a complexidade e as relações contigentes entre estrutura e agência.
Os estudos aqui realizados, com limitações e intenções mais pedagógicas do que pragmáticas, são exemplos interessantes do magma social, do social se formando antes das estabilizações nas caixas-pretas. A TAR é assim uma sociologia da mobilidade (das associações, das traduções) que nos permite ver a formação da sociedade. As controvérsias são os melhores lugares para essa observação. É importante aproveitar esse momento já que depois os actantes resolvem os seus problemas e silenciam-se nas caixas-pretas (até um novo problema surgir e revelar a “rede de atores“). O objetivo da TAR é justamente “descriptar” (descrever mesmo!) e revelar as redes que compõem o social.
O resultado dessa disciplina pode servir, pelo menos aos alunos da graduação, como uma vacina contra a grande sociologia, contras os estruturantes frames teóricos, contra a tentação de “separar para conhecer”, de purificar os híbridos para simplificar as análises, que eles irão certamente encontrar ao longo da vida acadêmica.